Sem Cata-Bagulho desde 2009, ruas do Campo Limpo e Capão Redondo viram depósito de entulho

Ruas do distrito do guia Capão Redondo, na zona sul de SP, foram excluídas da agenda da Operação Cata-Bagulho nos últimos dois anos e se transformaram em “pontos viciados” de descarte de lixo na região. A reportagem identificou ao menos 11 locais onde restos de construção civil, pedaços de móveis e madeiras, além de outros materiais, atrapalham a passagem de carros e pedestres e atraem insetos e ratos.

Moradores da região relatam que móveis e outros objetos velhos jogados nas ruas atraíram mais entulho. Em outros pontos, o descarte de restos de construção também favoreceu o acúmulo de galhos e objetos domésticos. Um dos locais que acumulam esse tipo de lixo fica na travessa Rosifloras, ao lado de um Ecoponto, espaço construído pela administração municipal para recolher lixo.

A Operação Cata-Bagulho foi criada em 2005 pela Prefeitura de São Paulo com o objetivo de pegar o lixo acumulado pelas residências que não é recolhido pelo serviço tradicional de coleta, como móveis, eletrodomésticos e outros materiais sem uso. Os endereços percorridos pela reportagem no Capão Redondo não constam no calendário de recolhimento de entulho das Subprefeituras do guia do Campo Limpo e M’Boi Mirim desde 2009.

Os moradores ouvidos pelo R7 relatam que o problema de acúmulo de lixo nas vias do Capão Redondo persiste há mais de um ano. A dona de casa Elaine Lins mora na rua Mercedes Tesser Ponchine e conta que a montanha de entulho começou a se formar na via depois que a sede da associação dos moradores do distrito saiu do terreno. O imóvel foi destruído e o que restou dele acabou atraindo mais sujeira.

– A prefeitura veio até aqui, limpou a praça que fica ao lado de casa, cortou a grama, mas não fez nada com o entulho. Estes restos de construção já estão invadindo a pista e atrapalhando a passagem dos carros.

A Operação Cata-Bagulho no distrito do Capão Redondo passou por 37 vias neste ano. Foram três ações de recolhimento em janeiro, uma em março e outra em abril, mas nenhuma delas beneficiou os pontos em que a reportagem flagrou o acúmulo de lixo, segundo os moradores do bairro. A região do M’Boi Mirim teve quatro operações Cata-Bagulho nos últimos cinco meses.

A prefeitura explicou que os pedidos do moradores e a orientação da supervisão de saúde da região, responsável pelo combate de focos da dengue, determinam os endereços e as datas para a operação.

A dona de casa Antonieta Lessa Ribeiro mora na rua Marco Basaiti e diz que já registrou dois protocolos na Subprefeitura do Campo Limpo. O último deles foi feito em fevereiro deste ano. Segundo ela, a funcionária (da qual ela não lembra o nome) disse que “encaminharia o pedido para a pessoa responsável”, mas a limpeza não havia sido feita até a publicação dessa reportagem.

Antonieta conta ainda que os moradores do bairro e de outros lugares sabem que há lixo acumulado na rua e aproveitam para descartar mais entulho. O problema, segundo ela, persiste há cerca de um ano e favorece a procriação de ratos.

– O cheiro não incomoda, mas ratos já viraram [sic] coisa normal. Eles invadem a casa da gente e podem trazer doença.





O presidente da Associação dos Moradores do Capão Redondo, Teófilo Isaias Lins, também relata que tentou impedir que pessoas jogassem entulho no bairro, mas chegou a ser ameaçado com uma arma. Ele afirma que, em 2010, levou à prefeitura fotos de pontos com acúmulo de entulho. Funcionários visitaram o local, registraram a ocorrência, mas não retiraram o lixo.

A prefeitura prometeu que os endereços que já registraram pedidos de limpeza serão vistoriados e limpos se nestes locais forem encontrados problemas.

A reportagem ligou para o 156 (telefone de informações da Prefeitura de São Paulo) para solicitar a remoção do entulho na rua Felipe Manara, no cruzamento com a Mercedes Tesser Pochinni. A atendente disse que não poderia registrar o pedido de limpeza, pois só tem autorização para informar quando a Operação Cata-Bagulho passaria pela região. Ela orientou então que a solicitação fosse feita na Subprefeitura do Campo Limpo e forneceu um telefone de contato.

A administração regional foi procurada no telefone passado e um funcionário contou ao R7 que só pode ser feita pessoalmente na praça de atendimento ou pela internet. Ele pediu uma descrição do lixo acumulado e confirmou que o serviço era de responsabilidade da Operação Cata-Bagulho. Porém, a ferramenta na web indicada pelo funcionário, e que é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Serviços, não estava funcionando até a publicação desta reportagem.

A reportagem então voltou a ligar para o 156 e conseguiu cadastrar o endereço da Felipe Manara na coleta. A atendente repassou um número com o protocolo de atendimento e disse que o recolhimento do lixo pode demorar até um mês para acontecer.

Outro lado

A subprefeitura do Campo Limpo esclareceu que a Operação Cata-Bagulhos não faz recolhimento de entulhos, pneus e poda de árvore, pois para estes materiais a administração regional oferece o Ecoponto (veja lista de endereços). O serviço destinado a acabar com esses pontos viciados de desova de lixo é de responsabilidade de outra operação de limpeza da prefeitura, que precisa usar outro tipo de caminhão para remover os materiais.

Dos 11 pontos citados pela reportagem, a subprefeitura informou que irá fazer uma vistoria em cinco endereços (ruas Felipe Manara, Francesco Talenti, Marco Basaiti e as avenidas Comendador Sant’anna e Wilhelm Friedrich Ladwig), mas não especificou quando isso acontecerá. Na rua Solidariedade e na travessa Rosifloras, o serviço de limpeza passou em janeiro e fevereiro.

Os serviços de varrição, capinação e pintura de guias foram realizados na semana passada na avenida Visconde do Rio Grande, disse a subprefeitura do M’Boi Mirim. A administração regional também informou que o serviço de remoção de entulho já estava programado para as próximas semanas nesta via e na rua Luísa Dias Santana Bonfim.

A subprefeitura Campo Limpo ainda esclareceu que conta com a ajuda das polícias Civil e Militar para combater o descarte irregular de lixo e entulho, mas os moradores também precisam contribuir com a limpeza.

O último boletim da Secretaria da Coordenação das Subprefeituras, divulgado no início do ano, afirma que 98 multas de R$ 12 mil foram aplicadas e mais de 100 responderão por crime ambiental depois de descartarem entulho na rua. A punição está prevista na lei que entrou em vigor em julho do ano passado. Antes, a multa para quem fosse flagrado jogando lixo na rua era de R$ 500.

Fonte: R7





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